O titular da Divisão de Homicídios (DH) do Rio de Janeiro, o delegado Felipe Renato Ettore, tomou na tarde desta quinta-feira (14) o depoimento de um jovem cujo nome foi citado em um dos manuscritos deixados pelo autor do massacre na escola municipal Tasso da Silveira, Wellington Menezes de Oliveira, em Realengo (zona oeste da cidade), no último dia 7.
Identificado como “Abdul”, o rapaz disse ter estudado com Oliveira no mesmo colégio --o atirador foi aluno da Tasso da Silveira entre 1999 a 2002 --e, segundo o delegado, pode ter sido uma das pessoas a terem feito brincadeiras com o atirador, que se suicidou após o massacre.
Segundo Ettore, Abdul, que não possui relação com o Islamismo, tampouco tem origem árabe, “é um sujeito extremamente tranquilo” e “ficou chocado com o crime” no qual 12 adolescentes de 12 a 15 anos foram mortos.
Ainda conforme o policial, no entanto, “não há como se confirmar” se esse mesmo rapaz é o citado no manuscrito de Oliveira. “Mas ele não tem relação (com o crime), sequer se lembrava do Wellington. Abdul é um cara extrovertido e brincalhão, que pode, inclusive, ter brincado com o Wellington e causado um trauma”, afirmou.
De acordo com o delegado, depoimentos de outros colegas da indústria de alimentos onde Oliveira trabalhou até agosto de 2010 apontam que o rapaz vinha economizando para supostamente comprar um carro. Ettore não deu mais detalhes sobre os depoimentos.
Citação de “Abdul” nos manuscritos
Nos manuscritos que a Polícia Civil encontrou na residência de Oliveira em Sepetiba, o autor do massacre revelava detalhes de um relacionamento conturbado com sua família. Os papéis encontrados não possuem data e, na maioria dos trechos, são desconexos.
Um dos diversos pontos obscuros nos textos do atirador diz respeito a um “grupo”, do qual ele fazia parte e acabou se distanciando. Abdul é um homem citado por ele supostamente enviado ao Brasil por seu pai (não fica claro se ele se refere a seu pai adotivo ou usa a palavra “pai” num contexto espiritual).
O autor do texto conta um desentendimento que teve com Abdul e outro homem chamado Phillip, por este ter usado indevidamente seu computador para ver imagens pornográficas:
“Me sinto frustrado... Tive uma briga com o Abdul e descobri que o Phillip usava meu PC para ver pornografia [...] resolvi falar sobre a menina q me convido a ir a igreja dela e antes d eu terminar ele [Abdul] já foi se exaltando dizendo que eu era para cortar ela logo no início ao invés de ouvi-la. Depois disso ele me ligou umas vezes e eu disse q estou saindo por respeito ao grupo. Eu também me considero errado por ouvi-la... [...] Essa minha saída do grupo me deu forças para reconhecer q agi errado em escuta aquela mulher. Eu não gostei d sair mas sei q é o certo”.
Não fica claro quem era a menina a quem Oliveira se referia, tampouco há detalhes sobre a composição, a dinâmica e o intuito deste suposto grupo.
Destinatário desconhecido
Além de servirem como plataforma para que Oliveira expressasse algumas ideias e sentimentos pessoais, alguns trechos dos manuscritos divulgados parecem ser parte de uma correspondência. O autor usa diversas vezes a palavra “você” e também escreve “tenho uma coisa a te dizer”, o que sugeriria um possível destinatário.
O delegado titular da Divisão de Homicídios da Polícia Civil, Felipe Ettore, não acredita em nenhuma motivação religiosa para o ataque do último dia 7 de abril e sustenta que Oliveira agiu sozinho, movido por uma doença mental.
No entanto, a Polícia Federal já entrou no caso para investigar as ligações que o autor do massacre possuía, a fim de averiguar se outra pessoa pode ter tido alguma participação no caso. A Justiça do Rio quebrou o sigilo eletrônico do atirador e ordenou que o Google forneça dados sobre ele às autoridades policiais à frente das investigações.
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